Artigo de
VIVIANE SOUTO MAIOR
Fervo, frevo:
aula-espetáculo
A contribuição do frevo para uma pesquisa nas artes cênicas.
Você conhece o frevo pernambucano? É muito provável que conheça apenas as canções mais famosas como Vassourinhas (Matias da Rocha e Joana Batista Ramos) e Madeira que cupim não rói (Capiba) e que as escute somente no período carnavalesco ou até mesmo só no Carnaval. E a dança do frevo? O famoso (ainda não tão conhecido) passo? Nas ruas, arrisca-se um passo, sugere-se uma tesoura, desfila-se com sombrinhas e veste-se a camisa do carnaval pernambucano, apenas naquela época determinada do ano. Entretanto, não somente no aspecto musical, mas também na sua dança, o frevo vem se tornando referência artística de grande importância e representatividade, sendo pensado como arte que transcende o período carnavalesco.
O frevo é um dos elementos da cultura popular pernambucana que tem ganhado visibilidade, a partir de investigações recentes realizadas por artistas e pesquisadores, tanto no campo de pesquisas acadêmicas, como em resultados cênicos. Entre as novas investigações, que pensam o frevo enquanto arte e que enxergam nele, em especial no passo, uma riqueza de material com possibilidades artísticas variadas a serem conhecidas e trabalhadas, está o projeto Fervo, frevo: aula-espetáculo, contemplado em 2009 pela Bolsa Funarte de Produção Crítica sobre as Interfaces dos Conteúdos Artísticos e Culturas Populares, por meio do Ministério da Cultura. A pesquisa, por mim desenvolvida e que tem como resultado uma aula-espetáculo, busca incorporar elementos da dança frevo no treinamento do ator-dançarino e na criação cênica. Outro trabalho que vem sendo desenvolvido a partir da dança frevo, é fruto das pesquisas e investigações da coreógrafa Valéria Vicente. O frevo também foi matéria prima para suas pesquisas práticas que resultaram nos espetáculos de dança “Fervo” (2007), “Pequena Subversão” (2008) e no livro “Entre a ponta de pé e o calcanhar” (2010). O Professor de Educação Física Chikashi Kambe, da Tokyo Gakugai University, (universidade situada na cidade de Tókio no Japão) desenvolve estudos sobre a dança do frevo e sobre o carnaval pernambucano e atualmente realiza aulas da dança no seu país.
A dança do frevo é extremamente rica e possui uma gama de elementos que precisam ser contemplados e divulgados, principalmente visando à valorização e ao conhecimento do passo, para que não fique exclusivamente vinculado à folia momesca e à extroversão, o que resulta numa visão que desconsidera as suas variadas possibilidades, modalidades e nuances.
O frevo surgiu nas ruas do Recife no fim do século 19 e se estruturou como forma artística no decorrer do século 20. Sua dança começou a ser elaborada de maneira sistematizada somente na década de 1970, pelo Mestre Nascimento do Passo, que desenvolveu um método, com o objetivo de perpetuá-la às novas gerações.
A metodologia criada por Nascimento se tornou um grande facilitador para a pesquisa, no que diz respeito ao entendimento e aprendizado do passo, permitindo que alguns princípios também utilizados no teatro (dentro do treinamento do ator-dançarino) fossem facilmente percebidos, apreendidos e trabalhados. O projeto Fervo, frevo: aula-espetáculo é o resultado de uma pesquisa para as artes cênicas, que tem como base o frevo e em especial o método do Mestre Nascimento. Outra referência do trabalho é o grupo Guerreiros do Passo, formado por discípulos do Mestre Nascimento, que há cinco anos desenvolve um projeto de aulas gratuitas de dança em praças e ruas da Região Metropolitana do Recife, sem nenhum tipo de incentivo e apoio de instituições particulares ou governamentais.
A pesquisa estabelece o diálogo entre o método criado por Nascimento e o pensamento da Antropologia Teatral. O encontro e o diálogo entre essas duas linguagens artísticas acontecem com o foco no trabalho do ator através de alguns princípios da dança identificados e trabalhados para o treinamento e para criação cênica. A Antropologia Teatral se vale de princípios identificados na base dos diferentes gêneros, estilos e papéis das tradições pessoais e coletivas, para o estudo do comportamento cênico pré-expressivo, propondo-se a descobrir os princípios transculturais que constroem sobre o plano operativo a base do comportamento cênico, sendo dever do ator conhecer tais princípios e explorar incessantemente todas as possibilidades práticas.
Com as apresentações da aula-espetáculo, resultante dessa pesquisa, é possível identificar o interesse e admiração do público pelo frevo, ao mesmo tempo em que perceber a sua falta de conhecimento sobre o assunto. No debate final torna-se evidente a curiosidade dos espectadores e a vontade de discutir e conhecer melhor a dança, o método e a pesquisa. A grande descoberta para esse trabalho e que permanece desconhecida pela maioria das pessoas é o trabalho com as modalidades da dança frevo identificadas por Mestre Nascimento do Passo. Além dos 40 passos básicos que integram o método, existe um trabalho com diferentes qualidades corporais, que são maneiras distintas de se dançar o frevo. O trabalho com as modalidades contribui para o enriquecimento do treinamento do ator-dançarino, assim como favorece a criação de personagens e situações cênicas. Alguns exemplos de modalidades identificadas por Nascimento são: a modalidade do ginasta, do bêbado, da criança, do cinqüentão, da mulher pernambucana, do capoeira, do carancolado, da boneca, entre outros.
Ainda falta um reconhecimento ao trabalho artístico e pedagógico, de valor histórico e social, realizado por Nascimento do Passo. A seu respeito, encontramos depoimentos de foliões, carnavalescos, alunos, em livros e jornais, destacando a importância e sabedoria do seu legado e a sua dedicação e paixão pelo frevo. “O trabalho de Nascimento é, acima de tudo, um exemplo de resistência cultural, de luta política para retirar o frevo e o passo dos parâmetros do exclusivamente carnavalesco ou folclórico”, escreve a pesquisadora Maria Goretti Rocha de Oliveira, em seu livro Danças populares como espetáculo público no Recife de 1970 a 1988.
O projeto Fervo, Frevo: aula-espetáculo foi apresentado recentemente no III Festival Latino Americano de Teatro da Bahia, em Salvador (BA), com uma grande aceitação do público, dando continuidade ao seu objetivo de divulgar a pesquisa e o passo. Este é um resultado de grande interesse para os profissionais e estudantes das artes e para o público geral, pois amplia os conhecimentos sobre o frevo pernambucano, valoriza o teatro de pesquisa, ao mesmo tempo em que enaltece a prática dos brincantes populares. Dessa maneira, buscamos contribuir para a divulgação e a valorização da cultura do nordeste, do frevo e do teatro de pesquisa, fomentando a diversidade da produção cultural da região. A pesquisa pode ser acompanhada pelo blog: www.viviver.blogspot.com
Nasci em Recife no dia de Todos os Santos e me criei em Salvador, na cidade de Todos os Santos. Sou atriz-pesquisadora, palhaça e escolhi a arte como caminho de vida. Em dezembro de 2007 resolvo sair da Bahia e ir em busca de um grande sonho. Mudo-me para Olinda (PE), volto para minha origem, meu berço e me reconheço finalmente. Em 2011 retorno para Bahia, agora para o Vale do Capão. E me deparo com um lindo caminho... Aqui apresento um pouco de tudo do que vim buscar e do que acredito.
Sejam bem vindos!
CONTATO:
(81) 9600-5165
vivianemaior@ig.com.br
frevoproducao@yahoo.com.br
Sejam bem vindos!
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(81) 9600-5165
vivianemaior@ig.com.br
frevoproducao@yahoo.com.br
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
terça-feira, 23 de novembro de 2010
COMUNICADO!
Por motivos pessoais dos seus professores,os Guerreiros do Passo, cancelaram as aulas de frevo até o final do ano na Praça do Hipódromo. O retorno fica marcado para o primeiro sábado de 2011, dia 08 de Janeiro.
Para o ator.
"O ator deve trabalhar a vida inteira, cultivar seu espírito, treinar sistematicamente os seus dons, desenvolver seu caráter, jamais deverá se desesperar e nunca renunciar a este objetivo primordial: amar sua arte com todas as forças e amá-la sem egoísmo." Constantin Stanislaviski.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
DVD "Fervo, Frevo:aula-espetáculo"
O DVD "Fervo, Frevo:aula-espetáculo" foi finalizado há alguns meses e já está circulando! O DVD não está à venda. Nele há o registro da aula espetáculo apresentada em 22 de Maio de 2010 na Livraria Cultura de Recife (PE), o clipe da pesquisa de campo e do processo de treinamento e criação, um texto de minha autoria referente à pesquisa e fotos.
A aula-espetáculo corresponde à minha demonstração de trabalho a partir da pesquisa com o frevo para as artes cênicas, sendo composta pelo treinamento do ator-dançarino, clipe da pesquisa de campo, demonstração da cena denominada "Restos de Carnaval" e apresentação da metodologia criada por mestre Nascimento do Passo (base do meu trabalho investigativo) apresentada pelos passistas Lucélia Albuquerque e Gil Silva (integrantes do grupo Guerreiros do Passo e discípulos de mestre Nascimento). Esse produto é o resultado de um mergulho feito a partir do universo da cultura popular e das artes cênicas, servindo para todos os interessados pelo frevo, cultura popular, teatro de pesquisa e trabalho de ator. Estou sempre aberta para trocar e aprender. Interessados no DVD e na pesquisa podem me procurar através dos contatos presentes na apresentação do blog.
Arte Gráfica do DVD: Adeíldo Leite.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Artigo - Revista Continente (novembro 2010 #119)
Meu artigo que fala da minha pesquisa sobre a incorporação do frevo no trabalho do ator foi publicado este mês na REVISTA CONTINENTE!!! Segue abaixo parte do artigo publicado no site da revista.
Escrito por Viviane Souto Maior.
Você conhece o frevo pernambucano? É muito provável que conheça apenas as canções mais famosas como Vassourinhas (Matias da Rocha e Joana Batista Ramos) ou Madeira que Cupim Não Rói (Capiba) e que as escute somente no período carnavalesco ou até mesmo só no Carnaval.E a dança do frevo? O famoso passo? Nas ruas arrisca-se um passo, sugere-se uma tesoura, desfila-se com sombrinhas e veste-se a camisa do carnaval pernambucano, apenas naquela época do ano. Entretanto, não somente no aspecto musical, mas também na sua dança, o frevo vem se tornando referência artística de grande importância e representatividade, sendo pensado como arte que transcende suas manifestações ligadas ao Carnaval.
Leia a matéria na íntegra na edição 119 da Revista Continente.
Site da rev ista: http://www.continentemulticultural.com.br/
Escrito por Viviane Souto Maior.
Você conhece o frevo pernambucano? É muito provável que conheça apenas as canções mais famosas como Vassourinhas (Matias da Rocha e Joana Batista Ramos) ou Madeira que Cupim Não Rói (Capiba) e que as escute somente no período carnavalesco ou até mesmo só no Carnaval.E a dança do frevo? O famoso passo? Nas ruas arrisca-se um passo, sugere-se uma tesoura, desfila-se com sombrinhas e veste-se a camisa do carnaval pernambucano, apenas naquela época do ano. Entretanto, não somente no aspecto musical, mas também na sua dança, o frevo vem se tornando referência artística de grande importância e representatividade, sendo pensado como arte que transcende suas manifestações ligadas ao Carnaval.
Leia a matéria na íntegra na edição 119 da Revista Continente.
Site da rev ista: http://www.continentemulticultural.com.br/
terça-feira, 5 de outubro de 2010
De volta pra casa!
De volta após a apresentação da aula-espetáculo no III FILTE! Foi muito bom apresentar em outro Estado, pois saímos com a certeza de que a aula funciona fora de Pernambuco! E ouso dizer que em qualquer lugar do mundo!hehehe Vale salientar que esse "outro Estado" que citei é a Bahia e que FINALMENTE me apresentei no lendário teatro da escola de teatro da UFBA, universidade que me formei. Muito feliz pelas pessoas, pelas surpresas, pelo carinho, por tudo. Quero deixar registrado aqui meus agradecimentos à Luis e a todo grupo OCO, pelo qual tenho um IMENSO carinho. Obrigada! Agradeço também pela generosidade e atenção dos integrantes do grupo "Yuyachkani", pessoas lindas... Por fim aos amigos, graaandes amigos!, colegas, família e especialmente à Mário Dias.... Muito obrigada. Obrigada a Gil, Lucélia e Andreisson pela generosidade...o quarteto fantástico! Já deu certo,hein?hehehe
Bem, depois desse grande parenteses retomo ao raciocínio da apresentação em sim. Percebemos que a aula-espetáculo interessa para quem não conhece o frevo ou pouco conhece. Fica claro a vontade, interesse e curiosidade dos espectadores sobre a pesquisa, o frevo e o método de Nascimento do Passo, por cada "parte" da demonstração. Sempre saem muitas perguntas nos debates e o "povo" não sente o tempo passar, a vontade é de continuar! É muito gostoso e extremamente gratificante perceber isso. A aula-espetáculo cresceu muito, agora é o momento de não deixar a poeira assentar. Vou arregaçar as mangas e seguir à diante, nos mais variados lugares, com o mais variado público e tendo a certeza que FUNCIONA!!!
Bem, depois desse grande parenteses retomo ao raciocínio da apresentação em sim. Percebemos que a aula-espetáculo interessa para quem não conhece o frevo ou pouco conhece. Fica claro a vontade, interesse e curiosidade dos espectadores sobre a pesquisa, o frevo e o método de Nascimento do Passo, por cada "parte" da demonstração. Sempre saem muitas perguntas nos debates e o "povo" não sente o tempo passar, a vontade é de continuar! É muito gostoso e extremamente gratificante perceber isso. A aula-espetáculo cresceu muito, agora é o momento de não deixar a poeira assentar. Vou arregaçar as mangas e seguir à diante, nos mais variados lugares, com o mais variado público e tendo a certeza que FUNCIONA!!!
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
“Fervo, Frevo: aula-espetáculo” integra a programação do III Festival Latino Americano de Teatro da Bahia – o FILTE.
Fervo, Frevo: aula-espetáculo. Livraria cultura, Recife - PE. Foto: Nicolas Marcial (2010)
A atriz-pesquisadora Viviane Souto Maior irá participar do III Festival Latino Americano de Teatro da Bahia – o FILTE, com a aula-espetáculo “Fervo, Frevo”, resultado de sua pesquisa para as artes cênicas sobre a dança do frevo. O festival acontecerá de 09 a 19 de Setembro deste ano e a apresentação da aula-espetáculo será no dia 17 (sexta-feira) às 13h, no Teatro Martins Gonçalves (Salvador – BA), integrando parte do componente investigativo e linha laboratorial do festival.
A atriz-pesquisadora Viviane Souto Maior irá participar do III Festival Latino Americano de Teatro da Bahia – o FILTE, com a aula-espetáculo “Fervo, Frevo”, resultado de sua pesquisa para as artes cênicas sobre a dança do frevo. O festival acontecerá de 09 a 19 de Setembro deste ano e a apresentação da aula-espetáculo será no dia 17 (sexta-feira) às 13h, no Teatro Martins Gonçalves (Salvador – BA), integrando parte do componente investigativo e linha laboratorial do festival.
A aula-espetáculo corresponde à demonstração de trabalho da atriz Viviane Souto Maior, sendo composta pelo treinamento para o ator-dançarino, clipe da pesquisa de campo, uma cena denominada “Restos de Carnaval” e apresentação da metodologia criada por Mestre Nascimento do Passo (base do trabalho investigativo da atriz) apresentada pelos passistas Lucélia Albuquerque e Gil Silva (integrantes do grupo Guerreiros do Passo e discípulos de mestre Nascimento). A atriz-pesquisadora foi a única artista contemplada na região Nordeste pela Bolsa Funarte de Produção Crítica sobre as Interfaces dos Conteúdos Artísticos e Culturas Populares, que resultou na criação da aula-espetáculo.
O FILTE, que esse ano faz homenagem aos 40 anos do grupo peruano Yuyachkani, tem como foco o teatro de grupo e de pesquisa e se encontra na sua terceira edição já fazendo parte dos principais festivais de teatro da América Latina.
Confira a programação no site oficial: http://www.filte.com.br/Festival/Programacao.html
Confira a programação no site oficial: http://www.filte.com.br/Festival/Programacao.html
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Comemoração dos 5 anos "Guerreiros do Passo"
No dia 01 de setembro de 2010 o Guerreiros do Passo completará cinco anos de vida. Para celebrar a data, os organizadores do grupo programaram fazer o lançamento de duas ações culturais, as quais serão divulgadas agora.
Uma delas é a fundação de um jornal, tablóide que terá circulação mensal e conterá matérias e textos relacionados as nossas manifestações populares e tudo sobre a arte do passo e do frevo pernambucano.
O jornal chama-se O PASSO, órgão informativo, crítico e literário da Troça Carnavalesca Mista O Indecente, agremiação fundada pelos os mesmos criadores do Guerreiros do Passo. O jornal terá distribuição gratuita, e os exemplares poderão ser encontrados nos principais pontos culturais da cidade a partir das primeiras horas do dia 01 de setembro. Além destes pontos, integrantes dos Guerreiros do Passo estarão circulando nesta quarta-feira por Olinda e Recife distribuindo os exemplares.
A outra ação programada para comemorar este momento especial de aniversário, é a realização do 1º CURSO DE PORTA-ESTANDARTE DOS GUERREIROS DO PASSO. O curso, que já tem atividades programadas, acontecerá aos sábados, em encontros regulares, duas vezes por mês até o próximo ano. Quem estará à frente das aulas será um dos mais célebres e prestigiados artistas do ramo, considerado atualmente como um dos maiores porta-estandartes que o Recife já teve: Fernando Zacarias.
Os utensílios, trajes, manejos e a conduta do porta-estandarte serão os principais temas abordados, contando ainda, com parte teórica sobre a história dos pavilhões e sobre a figura principal que o conduz.
A primeira aula está marcada para sábado, dia 11 de setembro, iniciando-se às 15 horas, no local de atividades dos Guerreiros do Passo, na Praça Tertuliano Feitosa, bairro do Hipódromo – Recife. O curso é gratuito e todos podem se inscrever a partir dos 16 anos. No final será dado certificado aos alunos que obtiverem maior aproveitamento.
Uma delas é a fundação de um jornal, tablóide que terá circulação mensal e conterá matérias e textos relacionados as nossas manifestações populares e tudo sobre a arte do passo e do frevo pernambucano.
O jornal chama-se O PASSO, órgão informativo, crítico e literário da Troça Carnavalesca Mista O Indecente, agremiação fundada pelos os mesmos criadores do Guerreiros do Passo. O jornal terá distribuição gratuita, e os exemplares poderão ser encontrados nos principais pontos culturais da cidade a partir das primeiras horas do dia 01 de setembro. Além destes pontos, integrantes dos Guerreiros do Passo estarão circulando nesta quarta-feira por Olinda e Recife distribuindo os exemplares.
A outra ação programada para comemorar este momento especial de aniversário, é a realização do 1º CURSO DE PORTA-ESTANDARTE DOS GUERREIROS DO PASSO. O curso, que já tem atividades programadas, acontecerá aos sábados, em encontros regulares, duas vezes por mês até o próximo ano. Quem estará à frente das aulas será um dos mais célebres e prestigiados artistas do ramo, considerado atualmente como um dos maiores porta-estandartes que o Recife já teve: Fernando Zacarias.
Os utensílios, trajes, manejos e a conduta do porta-estandarte serão os principais temas abordados, contando ainda, com parte teórica sobre a história dos pavilhões e sobre a figura principal que o conduz.
A primeira aula está marcada para sábado, dia 11 de setembro, iniciando-se às 15 horas, no local de atividades dos Guerreiros do Passo, na Praça Tertuliano Feitosa, bairro do Hipódromo – Recife. O curso é gratuito e todos podem se inscrever a partir dos 16 anos. No final será dado certificado aos alunos que obtiverem maior aproveitamento.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Fervo, Frevo: aula-espetáculo no FILTE 2010.
A aula-espetáculo "Fervo, Frevo" está CONFIRMADA na programação do III Festival Latino Americano de Teatro da Bahia - FILTE. A apresentação acorrerá no dia 17/09/10 (sexta-feira)pela manhã, no Teatro Martim Gonçalves (Escola de Teatro da UFBA). O horário será confirmado logo mais. NÃO PERCAM!!!!! Aguardo vocês.
Entrem no site oficial: www.filte.com.br
sexta-feira, 30 de julho de 2010
UM NOVO ESPAÇO CULTURAL!!! Apareçam!
Sede do Grupo Peleja em Olinda-PE, o Casarão Peleja, coordenado por Lineu Gabriel, Tainá Barreto e Viviane Souto Maior, é um espaço que abriga idéias, fomenta a criação, promove encontros e trocas. Aqui dispomos de uma sala de trabalho (batizada Chã de Criação), uma copa comum com água e cafezinho para a boa convivência, banheiro charmoso, lavabo, quarto para receber os artistas visitantes, paredes para preencher com quadros, fotos, cartazes e o que mais quisermos. Aqui a gente pode fazer barulho, dançar, tocar, cantar e ensaiar de madrugada! Aqui a gente tem internet para nos conectar com o mundo. Aqui a gente pode sair para tomar uma brisa e ver os barcos dos pescadores. É um espaço para dar aulas, exibir filmes, formar grupos, discutir, pensar, pesquisar, experimentar, criar, reunir.
Contatos
(81) 3493-9858 - Casarão
(81) 8538-7700 - Lineu
(81) 8639-7708 - Viviane
ACESSEM O BLOG DO CASARÃO: www.casaraopeleja.blogspot.com
Endereço
Rua Eustáquio de Carvalho, 29
Carmo - Olinda-PE /Brasil
Cep: 53120-030
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Elaboração do DVD.
Em breve estará saindo o DVD referente à Aula Espetáculo "Fervo, Frevo". No DVD estará o TREINAMENTO, A CENA, APRESENTAÇÃO DA PESQUISA, DEMOSTRAÇÃO DO MÉTODO NASCIMENTO DO PASSO e o DEBATE, com a participação de Gil Silva e Lucélia Albuquerque (Guerreiros do Passo). Estou muito feliz, pois é mais um filho que está sendo gerado dessa linda relação com o frevo!!!! Depois de todo o processo de criação, treinamentos, aulas e apresentação do resultado da pesquisa nada mais justo do que um material de registro que possa ser levado a público! Este DVD servirá para a divulgação do projeto, não tendo o caráter de produto a ser comercializado. Essa semana estarei tirando minhas merecidas férias (hehehe) e só retornarei em Julho. Quando retornar o DVD já vai estar praticamente PRONTO! Tudo já está encaminhado, agora só falta os últimos retoques.VIDA LONGA À PESQUISA, VIDA LONGA AO FREVO, VIDA LONDA À AULA ESPETÁCULO!!!!!!!!!!!!!
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Chegou O DIA!
Apresentação da aula-espetáculo "Fervo, Frevo". Livraria Cultura, 22 de Maio de 2010. Foto: Nicolas Marcial.
Fico imensamente grata pela presença de todos, o auditório da Livraria Cultura estava lotado!!! Iniciei com o treinamento criado a partir do frevo, logo após a apresentação do vídeo com imagens feitas por mim sobre a pesquisa de campo, treinamento, aulas de frevo e ensaios. Em seguida entro com a apresentação da cena criada a partir da dança frevo. Após essas apresentações fiz uma breve explanação sobre a pesquisa, caminhos trilhados, conexões feitas com o frevo (especificamente sobre a metodologia criada por mestre Nascimento do Passo) e a antropologia teatral com algumas demonstrações. Em seguida Lucélia Albuquerque (Grupo Guerreiros do Passo) falou um pouco sobre o grupo e a metodologia por eles abordada finalizando com a apresentação do método demonstrada pelo passista Gil Silva (meu professor!!!).Fechamos com chave de ouro com o debate que foi muito lindo e instigante! Funcionou! As pessoas realmente entenderam a proposta, sentiram, conseguiram enxergar e fazer conexões do trabalho. Algo foi despertado em todos nós, acordado, aprendido e apreendido, sinto-me realmente muito feliz, com uma grande sensação de DEVER CUMPRIDO e com a certeza de sempre de que vem muito chão pela frente...VIVA!
sábado, 8 de maio de 2010
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Mais uma etapa!
Agradeço a todos que estiveram no ensaio aberto. De coração! Fiquei muito feliz com a troca, foi fundamental. Depois de tanto tempo trabalhando bastante sozinha, esse momento de sair do casulo chegou e acredito que veio na hora que deveria. Me sinto feliz e consciente de que muito trabalho virá adiante. E que venha!!!! Agora, com mais calma e serenidade mergulho na finalização do projeto para apresentá-lo na Livraria Cultura.
segunda-feira, 26 de abril de 2010
Ensaio Aberto.
Nesta sexta-feira (30/04/2010) estarei realizando um ensaio aberto do meu processo de criação de uma cena a partir da dança frevo. Espero muito
contar com vocês! Após esse primeiro contato com o público, voltarei
para sala de trabalho a fim de finalizar a proposta para a
apresentação oficial no dia 22/05/2010, que fará parte da aula-espetáculo sobre a pesquisa.
SERVIÇO
"Projeto: Fervo, Frevo: aula espetáculo."
Ensaio aberto do processo de criação da atriz Viviane Souto Maior, que
integra a sua pesquisa teórica e prática sobre a cultura popular na
formação de artistas e na criação cênica.
Local: Compassos Cia. de Danças
Rua da Moeda, 93, 1º andar, Bairro do Recife
(Em frente ao Bar Novo Pina e da estátua de Chico Science)
Data: 30/04/2010 (sexta-feira)
Horário: 20h.
ENTRADA FRANCA.
Informações: (81) 8639-7708 / frevoproducao@yahoo.com.br
contar com vocês! Após esse primeiro contato com o público, voltarei
para sala de trabalho a fim de finalizar a proposta para a
apresentação oficial no dia 22/05/2010, que fará parte da aula-espetáculo sobre a pesquisa.
SERVIÇO
"Projeto: Fervo, Frevo: aula espetáculo."
Ensaio aberto do processo de criação da atriz Viviane Souto Maior, que
integra a sua pesquisa teórica e prática sobre a cultura popular na
formação de artistas e na criação cênica.
Local: Compassos Cia. de Danças
Rua da Moeda, 93, 1º andar, Bairro do Recife
(Em frente ao Bar Novo Pina e da estátua de Chico Science)
Data: 30/04/2010 (sexta-feira)
Horário: 20h.
ENTRADA FRANCA.
Informações: (81) 8639-7708 / frevoproducao@yahoo.com.br
sexta-feira, 16 de abril de 2010
NA BAHIA!
Decidi passar uma semana em Lauro de Freitas, trabalhando intensamente com meu ex-diretor Luís Alberto Alonso (diretor do grupo Oco Teatro Laboratório). Estamos trabalhando a cena que criei a partir da pesquisa com o frevo. Acredito que já tenho um bom material e o momento de trabalhar com um olhar de fora e direcionado chegou. Além da necessidade do olhar de fora num esquema mais constante e intenso, houve também a necessidade de viajar e me distanciar da rotina do "dia a dia", com o intuito de mergulhar unicamente no processo sem pensar em nada mais. Afastar-me para "deslocar" meu olhar, voltar modificada, com novos ares, a partir de um novo olhar e continuar direcionando a pesquisa e a cena.
O trabalho está sendo muito gratificante, pois está além de uma direção de cena ou um feed-back de um diretor. É um reatar de laços, uma troca, aprendizado, cumplicidade, propostas de parcerias. Um novo olhar, uma nova pessoa, um retorno às "raízes do teatro" após o retorno às "raízes da cultura". A sensação de que esse "reencontro" dará bons e produtivos frutos se torna uma certeza! A concretização do amadurecimento, a vontade de continuar, as descobertas, a conscientização e segurança do caminho seguido e a seguir, o melhor entendimento do teatro antropológico e a comunhão com a busca de um teatro em sua essência. Estou com muita vontade de escrever, estou muito feliz e confiante! Preciso definir o tema do meu artigo, são tantas coisas que passam por minha cabeça...Mas entreguei essa semana o relatório para FUNARTE e nele propus um tema:
"A visão diferenciada dos Guerreiros do Passo sobre o frevo e a essencial contribuição para um novo olhar e encaminhamento da pesquisa."
Voltarei mais tranquila e segura. Esse "retiro" que estou vivendo (intensificado ainda mais com as chuvas que nos deixaram literalmente ILHADOS do resto do mundo)está sendo fundamental para o processo como um todo!
O trabalho está sendo muito gratificante, pois está além de uma direção de cena ou um feed-back de um diretor. É um reatar de laços, uma troca, aprendizado, cumplicidade, propostas de parcerias. Um novo olhar, uma nova pessoa, um retorno às "raízes do teatro" após o retorno às "raízes da cultura". A sensação de que esse "reencontro" dará bons e produtivos frutos se torna uma certeza! A concretização do amadurecimento, a vontade de continuar, as descobertas, a conscientização e segurança do caminho seguido e a seguir, o melhor entendimento do teatro antropológico e a comunhão com a busca de um teatro em sua essência. Estou com muita vontade de escrever, estou muito feliz e confiante! Preciso definir o tema do meu artigo, são tantas coisas que passam por minha cabeça...Mas entreguei essa semana o relatório para FUNARTE e nele propus um tema:
"A visão diferenciada dos Guerreiros do Passo sobre o frevo e a essencial contribuição para um novo olhar e encaminhamento da pesquisa."
Voltarei mais tranquila e segura. Esse "retiro" que estou vivendo (intensificado ainda mais com as chuvas que nos deixaram literalmente ILHADOS do resto do mundo)está sendo fundamental para o processo como um todo!
quarta-feira, 31 de março de 2010
ANTROPOLOGIA TEATRAL.
O teatro Antropológico é a base do meu fazer teatral. Para entender quais os princípios e pensamentos que utilizo para desenvolver a pesquisa, estou postando um resumo que explica um pouco sobre esse pensamento.
TEATRO ANTROPOLÓGICO.
Encontrar uma anatomia especial para o ator, ou seja, o seu "corpo extra-cotidiano". É através da antropologia teatral - "o estudo do comportamento cênico pré-expressivo que se encontra na base dos diferentes gêneros, estilos e papéis e das tradições pessoais e coletivas", que Eugênio Barba (criador do teatro antropológico) vai encontrar esse "novo corpo", onde a presença física e mental do ator-dançarino modela-se segundo princípios diferentes dos da vida cotidiana. O corpo todo pensa/age com uma outra qualidade de energia e ter energia significa saber modelá-la.
Barba vai encontrar princípios comuns, recorrentes, que norteiam o estado pré-expressivo do ator e que se encontram por trás da representação em diferentes lugares e épocas,como:
Equilíbrio - um equilíbrio extra-cotidiano e que ele chama de "equilíbrio de luxo", equilíbrio precário ou equilíbrio permanentemente instável, que vai gerar uma série de tensões no corpo e vai exigir um esforço físico maior, dando vida e dinamicidade à ação.
Dilatação - Eugênio Barba diz que um corpo - em - vida é mais que um corpo que vive. "Um corpo - em- vida dilata a presença do ator e a percepção do espectador (...) o corpo dilatado é acima de tudo um corpo incandescente, no sentido científico do termo: as partículas que compõem o comportamento cotidiano foram excitadas e produzem mais energia, sofreram um incremento de movimento, separam-se mais, atraem-se com mais força, num espaço mais amplo ou reduzido".
Energia - Barba define como "a potência nervosa e muscular do ator". Estudar a energia do ator, segundo ele, significa examinar os princípios pelos quais o ator pode modelar e educar sua potência muscular e nervosa, de acordo com situações não-cotidianas.
Oposição - onde cada ação é iniciada na direção oposta à qual se dirige.
Pré-Expressividade - não aparece em cena, mas é o trabalho mais criativo do ator, a base sólida da construção, que não se vê, mas está presente. As técnicas extra-cotidianas que caracterizam a vida do ator ainda antes que esta vida comece a querer representar algo. "A pré-expressividade utiliza princípios para aquisição de presença e vida do ator (...), como se, nesta fase o objetivo principal fosse a energia, a presença, o bios de suas ações e não seu significado".
Partitura - seqüência de ações físicas e vocais marcadas e fixadas pela memória do corpo - mente do ator a tal ponto que pode ser repetida espontaneamente pelo mesmo.
Esses princípios recorrentes em várias culturas pesquisadas por Eugênio Barba vêm sublinhar a unicidade de cada ator, de cada grupo, "de cada horizonte histórico cultural - a descoberta dos princípios comuns da presença cênica para aplicá-los à sua própria exploração (...) a identificação com uma história teatral, transcultural, construída por mestres ou criadores de outras culturas.
*Referência:
http://www.caleidoscopio.art.br/cultural/artescenicas/teacontemp/eugeniobarba06b.html
TEATRO ANTROPOLÓGICO.
Encontrar uma anatomia especial para o ator, ou seja, o seu "corpo extra-cotidiano". É através da antropologia teatral - "o estudo do comportamento cênico pré-expressivo que se encontra na base dos diferentes gêneros, estilos e papéis e das tradições pessoais e coletivas", que Eugênio Barba (criador do teatro antropológico) vai encontrar esse "novo corpo", onde a presença física e mental do ator-dançarino modela-se segundo princípios diferentes dos da vida cotidiana. O corpo todo pensa/age com uma outra qualidade de energia e ter energia significa saber modelá-la.
Barba vai encontrar princípios comuns, recorrentes, que norteiam o estado pré-expressivo do ator e que se encontram por trás da representação em diferentes lugares e épocas,como:
Equilíbrio - um equilíbrio extra-cotidiano e que ele chama de "equilíbrio de luxo", equilíbrio precário ou equilíbrio permanentemente instável, que vai gerar uma série de tensões no corpo e vai exigir um esforço físico maior, dando vida e dinamicidade à ação.
Dilatação - Eugênio Barba diz que um corpo - em - vida é mais que um corpo que vive. "Um corpo - em- vida dilata a presença do ator e a percepção do espectador (...) o corpo dilatado é acima de tudo um corpo incandescente, no sentido científico do termo: as partículas que compõem o comportamento cotidiano foram excitadas e produzem mais energia, sofreram um incremento de movimento, separam-se mais, atraem-se com mais força, num espaço mais amplo ou reduzido".
Energia - Barba define como "a potência nervosa e muscular do ator". Estudar a energia do ator, segundo ele, significa examinar os princípios pelos quais o ator pode modelar e educar sua potência muscular e nervosa, de acordo com situações não-cotidianas.
Oposição - onde cada ação é iniciada na direção oposta à qual se dirige.
Pré-Expressividade - não aparece em cena, mas é o trabalho mais criativo do ator, a base sólida da construção, que não se vê, mas está presente. As técnicas extra-cotidianas que caracterizam a vida do ator ainda antes que esta vida comece a querer representar algo. "A pré-expressividade utiliza princípios para aquisição de presença e vida do ator (...), como se, nesta fase o objetivo principal fosse a energia, a presença, o bios de suas ações e não seu significado".
Partitura - seqüência de ações físicas e vocais marcadas e fixadas pela memória do corpo - mente do ator a tal ponto que pode ser repetida espontaneamente pelo mesmo.
Esses princípios recorrentes em várias culturas pesquisadas por Eugênio Barba vêm sublinhar a unicidade de cada ator, de cada grupo, "de cada horizonte histórico cultural - a descoberta dos princípios comuns da presença cênica para aplicá-los à sua própria exploração (...) a identificação com uma história teatral, transcultural, construída por mestres ou criadores de outras culturas.
*Referência:
http://www.caleidoscopio.art.br/cultural/artescenicas/teacontemp/eugeniobarba06b.html
Processo...
Após três meses de trabalho intenso na pesquisa de campo, muitas coisas foram surgindo e outras percepções foram sendo absorvidas. A relação com o frevo, com os guerreiros do passo e com a própria pesquisa vai se alterando, tomando outra dimensão se tornando mais próxima, intensa e clara. Voltei para o trabalho em sala com mais direcionamento e propriedade, com a vivência e o “frescor” de tudo que foi vivenciado.
O processo em sala está sendo intenso. A cada dia novas descobertas vão surgindo relacionadas ao treinamento e à cena. Alguns profissionais das artes cênicas e culturas populares estão colaborando com o processo, porém dois profissionais estão acompanhando de maneira mais intensa e contínua: Tainá Barreto do grupo Peleja SP/PE (pesquisadora de manifestações populares, atriz e dançarina) e Gil Silva (pesquisador de manifestações populares, dançarino e passista do grupo Guerreiros do Passo).
Estou cada vez mais íntima do treinamento e ao contrário da criação inicial da partitura frevo que surgiu através de improvisações livres, nesse momento já estou direcionando meus interesses nos elementos, modalidades e “temas” que quero trabalhar na cena.
ELEMENTOS:
- Sombrinha de frevo.
- Guarda-Chuva médio.
- Guarda-Chuva grande.
- Sanfona.
- Máscara.
MODALIDADES:
- Boneca.
- Criança.
- Mulher pernambucana.
- Capoeira.
- Bêbado.
TEMAS:
- Saudade
- Amor
- Carnaval
- Quarta-feira de cinzas
A cena possui pequenos trechos de textos criados por mim e de um conto de Clarice Lispector intitulado “Restos de Carnaval”, do livro Felicidade Clandestina.
terça-feira, 2 de março de 2010
DE VOLTA AO TRABALHO EM SALA!
Finalmente! De volta ao trabalho em sala, como sempre muita dificuldade de se encontrar um espaço para trabalhar em Recife e principalmente em Olinda, mas consegui! E para minha grande felicidade consegui o MEU ESPAÇO!!! FINALMENTE!!! Porém só irei começar a trabalhar nele na próxima semana. Essa semana estou trabalhando sozinha e todos os dias pela tarde no espaço do grupo de teatro "Quadro de Cena". O treinamento e o processo de criação estão fluindo maravilhosamente, estou mais segura, confiante, calma, madura e com certeza com A VONTADE DO MUNDO TODO para criar e realizar a aula espetáculo que intitulei "FERVO, FREVO" e que será apresentada no Auditório da Livraria Cultura no dia 22/05/2010 às 17h.
Inicio o trabalho com um alongamento e aquecimento corporal, depois aquecimento vocal seguido do treinamento criado a partir dos elementos do frevo para depois partir para a criação cênica também inspirada no frevo. A partitura física até o momento tem o total de 18 min e 30 seg. Muita coisa surgiu. Temas diversos e corporeidades são o foco agora e não a criação de espetáculo em si, ainda não é o objetivo dessa fase da pesquisa. Temas como carnaval, frevo, saudade, amor, briga, entre outros estão presentes.
Hoje integrei a sanfona na partitura e um novo elemento também foi acrescentado desde que voltei a trabalhar em sala que foi o guarda-chuva (logicamente que os Guerreiros são os grande culpados disso!hehehe)e esses novos elementos estão somando muito e trazendo boas e novas idéias. Estou muito feliz com esse início de processo!!!Logo estarei postando algumas fotos e vídeos do processo. E VAMO QUE VAMO que como costumo dizer...O caminho é ÁRDUO mas é compensador!
Inicio o trabalho com um alongamento e aquecimento corporal, depois aquecimento vocal seguido do treinamento criado a partir dos elementos do frevo para depois partir para a criação cênica também inspirada no frevo. A partitura física até o momento tem o total de 18 min e 30 seg. Muita coisa surgiu. Temas diversos e corporeidades são o foco agora e não a criação de espetáculo em si, ainda não é o objetivo dessa fase da pesquisa. Temas como carnaval, frevo, saudade, amor, briga, entre outros estão presentes.
Hoje integrei a sanfona na partitura e um novo elemento também foi acrescentado desde que voltei a trabalhar em sala que foi o guarda-chuva (logicamente que os Guerreiros são os grande culpados disso!hehehe)e esses novos elementos estão somando muito e trazendo boas e novas idéias. Estou muito feliz com esse início de processo!!!Logo estarei postando algumas fotos e vídeos do processo. E VAMO QUE VAMO que como costumo dizer...O caminho é ÁRDUO mas é compensador!
sábado, 20 de fevereiro de 2010
"O que seria da vida afinal, se não houvesse carnaval..."
Foto: Viviane Souto Maior.
O carnaval foi simplesmente MARAVILHOSO, como sempre! Todas as prévias carnavalescas, as aulas de frevo, a pesquisa de campo e o próprio carnaval foram extremamente enriquecedores para o momento da pesquisa. Depois desse furação de festas, dança, acontecimentos, aprendizado, troca e é claro, muito frevo, chega o momento do treinamento e ensaio dentro de sala. A partir dessa próxima semana retomo o treino e a criação de uma cena. Muitas idéias já estão surgindo, a cabeça está borbulhando e a vontade de iniciar esse segundo momento está gritando dentro de mim!!! Inicio nessa primeira semana a princípio sozinha, porém no decorrer do trabalho começarei a convidar algumas pessoas para integrar, colaborar e trocar experiências.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Concurso Passista 2010 (Recife).
Foto: Viviane Souto Maior.
PASSISTA 2010 - GUERREIROS LEVAM PREMIOS
O Frevo tomou conta do Pátio de São Pedro na noite deste domingo dia 24 de janeiro de 2010 na finalíssima do Concurso de Passistas realizado pela Prefeitura do Recife. Os dançarinos puderam comprovar todas as suas habilidades em busca dos premios, que chegaram no máximo a hum mil reais em algumas categorias. Infelizmente os valores distribuídos como premiação não fazem justiça a qualidade dos passistas, e o que poderia ser um incentivo e estímulo para a formação de novos dançarinos, tranforma-se em decepção para alguns.
Quatro integrantes do Guerreiros do Passo obtiveram primeiros e segundos lugares em três categorias diferentes das 7 disputadas. O primeiro lugar de João Lucas na categoria Pré-Mirim Masculino e de Gil Silva no Master Masculino é a demonstração que o trabalho desenvolvido pelos Guerreiros na Praça do Hipódromo está assegurando, nem que seja por alguns anos, a manutenção do pensamento criado pelo Mestre Nascimento do Passo, plantando as sementes que frutificarão num futuro breve.
Os Guerreiros vencedores são:
João Lucas
Josilene Rodrigues
Gil Silva
Ricardo Napoleão
Fonte: http://guerreirosdopasso.blogspot.com/
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Guerreiros do Passo.
Fonte:http://guerreirosdopasso.blogspot.com/
No próximo dia 3 de fevereiro de 2010, os Guerreiros do Passo participarão do lançamento do livro Entre a ponta de Pé e o calcanhar da escritora e pesquisadora Valéria Vicente. O livro faz reflexões sobre o frevo em seus diversos aspectos e os Guerreiros do Passo estão entre suas páginas como um dos grupos pesquisados.
Além de está incluído na obra, o grupo apresentará no evento o seu conhecido experimento que narra a origem do frevo.
O lançamento será no dia 3 de fevereiro na Livraria Cultura no Paço Alfândega,
Recife Antigo, as 19 horas.
GUERREIROS RETOMAM AULA
No dia 9 de janeiro, os Guerreiros do Passo retomaram as aulas de dança na Praça do Hipódromo, iniciando as atividades do ano de 2010.####
Lembramos que as aulas começam sempre as 15 horas, sendo importante chegar no horário marcado para não perder o aquecimento e o alongamento, procedimentos importantes para o bom desempenho dos participantes.
###################
Sejam bem vindos!!!
No próximo dia 3 de fevereiro de 2010, os Guerreiros do Passo participarão do lançamento do livro Entre a ponta de Pé e o calcanhar da escritora e pesquisadora Valéria Vicente. O livro faz reflexões sobre o frevo em seus diversos aspectos e os Guerreiros do Passo estão entre suas páginas como um dos grupos pesquisados.
Além de está incluído na obra, o grupo apresentará no evento o seu conhecido experimento que narra a origem do frevo.
O lançamento será no dia 3 de fevereiro na Livraria Cultura no Paço Alfândega,
Recife Antigo, as 19 horas.
GUERREIROS RETOMAM AULA
No dia 9 de janeiro, os Guerreiros do Passo retomaram as aulas de dança na Praça do Hipódromo, iniciando as atividades do ano de 2010.####
Lembramos que as aulas começam sempre as 15 horas, sendo importante chegar no horário marcado para não perder o aquecimento e o alongamento, procedimentos importantes para o bom desempenho dos participantes.
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Sejam bem vindos!!!
Restos do Carnaval.
Clarice Lispector
Não, não deste último carnaval. Mas não sei por que este me transportou para a minha infância e para as quartas-feiras de cinzas nas ruas mortas onde esvoaçavam despojos de serpentina e confete. Uma ou outra beata com um véu cobrindo a cabeça ia à igreja, atravessando a rua tão extremamente vazia que se segue ao carnaval. Até que viesse o outro ano. E quando a festa já ia se aproximando, como explicar a agitação que me tomava? Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate. Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas. Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim. Carnaval era meu, meu.
No entanto, na realidade, eu dele pouco participava. Nunca tinha ido a um baile infantil, nunca me haviam fantasiado. Em compensação deixavam-me ficar até umas 11 horas da noite à porta do pé de escada do sobrado onde morávamos, olhando ávida os outros se divertirem. Duas coisas preciosas eu ganhava então e economizava-as com avareza para durarem os três dias: um lança-perfume e um saco de confete. Ah, está se tornando difícil escrever. Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz.
E as máscaras? Eu tinha medo, mas era um medo vital e necessário porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto humano também fosse uma espécie de máscara. À porta do meu pé de escada, se um mascarado falava comigo, eu de súbito entrava no contato indispensável com o meu mundo interior, que não era feito só de duendes e príncipes encantados, mas de pessoas com o seu mistério. Até meu susto com os mascarados, pois, era essencial para mim.
Não me fantasiavam: no meio das preocupações com minha mãe doente, ninguém em casa tinha cabeça para carnaval de criança. Mas eu pedia a uma de minhas irmãs para enrolar aqueles meus cabelos lisos que me causavam tanto desgosto e tinha então a vaidade de possuir cabelos frisados pelo menos durante três dias por ano. Nesses três dias, ainda, minha irmã acedia ao meu sonho intenso de ser uma moça - eu mal podia esperar pela saída de uma infância vulnerável - e pintava minha boca de batom bem forte, passando também ruge nas minhas faces. Então eu me sentia bonita e feminina, eu escapava da meninice.
Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não conseguia acreditar que tanto me fosse dado, eu, que já aprendera a pedir pouco. É que a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha e o nome da fantasia era no figurino Rosa. Para isso comprara folhas e folhas de papel crepom cor-de-rosa, com os quais, suponho, pretendia imitar as pétalas de uma flor. Boquiaberta, eu assistia pouco a pouco à fantasia tomando forma e se criando. Embora de pétalas o papel crepom nem de longe lembrasse, eu pensava seriamente que era uma das fantasias mais belas que jamais vira.
Foi quando aconteceu, por simples acaso, o inesperado: sobrou papel crepom, e muito. E a mãe de minha amiga - talvez atendendo a meu mudo apelo, ao meu mudo desespero de inveja, ou talvez por pura bondade, já que sobrara papel - resolveu fazer para mim também uma fantasia de rosa com o que restara de material. Naquele carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma.
Até os preparativos já me deixavam tonta de felicidade. Nunca me sentira tão ocupada: minuciosamente, minha amiga e eu calculávamos tudo, embaixo da fantasia usaríamos combinação, pois se chovesse e a fantasia se derretesse pelo menos estaríamos de algum modo vestidas - àidéia de uma chuva que de repente nos deixasse, nos nossos pudores femininos de oito anos, de combinação na rua, morríamos previamente de vergonha - mas ah! Deus nos ajudaria! não choveria! Quando ao fato de minha fantasia só existir por causa das sobras de outra, engoli com alguma dor meu orgulho que sempre fora feroz, e aceitei humilde o que o destino me dava de esmola.
Mas por que exatamente aquele carnaval, o único de fantasia, teve que ser tão melancólico? De manhã cedo no domingo eu já estava de cabelos enrolados para que até de tarde o frisado pegasse bem. Mas os minutos não passavam, de tanta ansiedade. Enfim, enfim! Chegaram três horas da tarde: com cuidado para não rasgar o papel, eu me vesti de rosa.
Muitas coisas que me aconteceram tão piores que estas, eu já perdoei. No entanto essa não posso sequer entender agora: o jogo de dados de um destino é irracional? É impiedoso. Quando eu estava vestida de papel crepom todo armado, ainda com os cabelos enrolados e ainda sem batom e ruge - minha mãe de súbito piorou muito de saúde, um alvoroço repentino se criou em casa e mandaram-me comprar depressa um remédio na farmácia. Fui correndo vestida de rosa - mas o rosto ainda nu não tinha a máscara de moça que cobriria minha tão exposta vida infantil - fui correndo, correndo, perplexa, atônita, entre serpentinas, confetes e gritos de carnaval. A alegria dos outros me espantava.
Quando horas depois a atmosfera em casa acalmou-se, minha irmã me penteou e pintou-me. Mas alguma coisa tinha morrido em mim. E, como nas histórias que eu havia lido, sobre fadas que encantavam e desencantavam pessoas, eu fora desencantada; não era mais uma rosa, era de novo uma simples menina. Desci até a rua e ali de pé eu não era uma flor, era um palhaço pensativo de lábios encarnados. Na minha fome de sentir êxtase, às vezes começava a ficar alegre mas com remorso lembrava-me do estado grave de minha mãe e de novo eu morria.
Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a ela é porque tanto precisava me salvar. Um menino de uns 12 anos, o que para mim significava um rapaz, esse menino muito bonito parou diante de mim e, numa mistura de carinho, grossura, brincadeira e sensualidade, cobriu meus cabelos já lisos de confete: por um instante ficamos nos defrontando, sorrindo, sem falar. E eu então, mulherzinha de 8 anos, considerei pelo resto da noite que enfim alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa.
in "Felicidade Clandestina" - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998
Não, não deste último carnaval. Mas não sei por que este me transportou para a minha infância e para as quartas-feiras de cinzas nas ruas mortas onde esvoaçavam despojos de serpentina e confete. Uma ou outra beata com um véu cobrindo a cabeça ia à igreja, atravessando a rua tão extremamente vazia que se segue ao carnaval. Até que viesse o outro ano. E quando a festa já ia se aproximando, como explicar a agitação que me tomava? Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate. Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas. Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim. Carnaval era meu, meu.
No entanto, na realidade, eu dele pouco participava. Nunca tinha ido a um baile infantil, nunca me haviam fantasiado. Em compensação deixavam-me ficar até umas 11 horas da noite à porta do pé de escada do sobrado onde morávamos, olhando ávida os outros se divertirem. Duas coisas preciosas eu ganhava então e economizava-as com avareza para durarem os três dias: um lança-perfume e um saco de confete. Ah, está se tornando difícil escrever. Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz.
E as máscaras? Eu tinha medo, mas era um medo vital e necessário porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto humano também fosse uma espécie de máscara. À porta do meu pé de escada, se um mascarado falava comigo, eu de súbito entrava no contato indispensável com o meu mundo interior, que não era feito só de duendes e príncipes encantados, mas de pessoas com o seu mistério. Até meu susto com os mascarados, pois, era essencial para mim.
Não me fantasiavam: no meio das preocupações com minha mãe doente, ninguém em casa tinha cabeça para carnaval de criança. Mas eu pedia a uma de minhas irmãs para enrolar aqueles meus cabelos lisos que me causavam tanto desgosto e tinha então a vaidade de possuir cabelos frisados pelo menos durante três dias por ano. Nesses três dias, ainda, minha irmã acedia ao meu sonho intenso de ser uma moça - eu mal podia esperar pela saída de uma infância vulnerável - e pintava minha boca de batom bem forte, passando também ruge nas minhas faces. Então eu me sentia bonita e feminina, eu escapava da meninice.
Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não conseguia acreditar que tanto me fosse dado, eu, que já aprendera a pedir pouco. É que a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha e o nome da fantasia era no figurino Rosa. Para isso comprara folhas e folhas de papel crepom cor-de-rosa, com os quais, suponho, pretendia imitar as pétalas de uma flor. Boquiaberta, eu assistia pouco a pouco à fantasia tomando forma e se criando. Embora de pétalas o papel crepom nem de longe lembrasse, eu pensava seriamente que era uma das fantasias mais belas que jamais vira.
Foi quando aconteceu, por simples acaso, o inesperado: sobrou papel crepom, e muito. E a mãe de minha amiga - talvez atendendo a meu mudo apelo, ao meu mudo desespero de inveja, ou talvez por pura bondade, já que sobrara papel - resolveu fazer para mim também uma fantasia de rosa com o que restara de material. Naquele carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma.
Até os preparativos já me deixavam tonta de felicidade. Nunca me sentira tão ocupada: minuciosamente, minha amiga e eu calculávamos tudo, embaixo da fantasia usaríamos combinação, pois se chovesse e a fantasia se derretesse pelo menos estaríamos de algum modo vestidas - àidéia de uma chuva que de repente nos deixasse, nos nossos pudores femininos de oito anos, de combinação na rua, morríamos previamente de vergonha - mas ah! Deus nos ajudaria! não choveria! Quando ao fato de minha fantasia só existir por causa das sobras de outra, engoli com alguma dor meu orgulho que sempre fora feroz, e aceitei humilde o que o destino me dava de esmola.
Mas por que exatamente aquele carnaval, o único de fantasia, teve que ser tão melancólico? De manhã cedo no domingo eu já estava de cabelos enrolados para que até de tarde o frisado pegasse bem. Mas os minutos não passavam, de tanta ansiedade. Enfim, enfim! Chegaram três horas da tarde: com cuidado para não rasgar o papel, eu me vesti de rosa.
Muitas coisas que me aconteceram tão piores que estas, eu já perdoei. No entanto essa não posso sequer entender agora: o jogo de dados de um destino é irracional? É impiedoso. Quando eu estava vestida de papel crepom todo armado, ainda com os cabelos enrolados e ainda sem batom e ruge - minha mãe de súbito piorou muito de saúde, um alvoroço repentino se criou em casa e mandaram-me comprar depressa um remédio na farmácia. Fui correndo vestida de rosa - mas o rosto ainda nu não tinha a máscara de moça que cobriria minha tão exposta vida infantil - fui correndo, correndo, perplexa, atônita, entre serpentinas, confetes e gritos de carnaval. A alegria dos outros me espantava.
Quando horas depois a atmosfera em casa acalmou-se, minha irmã me penteou e pintou-me. Mas alguma coisa tinha morrido em mim. E, como nas histórias que eu havia lido, sobre fadas que encantavam e desencantavam pessoas, eu fora desencantada; não era mais uma rosa, era de novo uma simples menina. Desci até a rua e ali de pé eu não era uma flor, era um palhaço pensativo de lábios encarnados. Na minha fome de sentir êxtase, às vezes começava a ficar alegre mas com remorso lembrava-me do estado grave de minha mãe e de novo eu morria.
Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a ela é porque tanto precisava me salvar. Um menino de uns 12 anos, o que para mim significava um rapaz, esse menino muito bonito parou diante de mim e, numa mistura de carinho, grossura, brincadeira e sensualidade, cobriu meus cabelos já lisos de confete: por um instante ficamos nos defrontando, sorrindo, sem falar. E eu então, mulherzinha de 8 anos, considerei pelo resto da noite que enfim alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa.
in "Felicidade Clandestina" - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Partitura Física criada a partir do frevo. Livraria Cultura (Recife - PE, JUN 2009)
VIDEO:
www.youtube.com/watch?v=unPtidjDx-g
www.youtube.com/watch?v=unPtidjDx-g
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