Nasci em Recife no dia de Todos os Santos e me criei em Salvador, na cidade de Todos os Santos. Sou atriz-pesquisadora, palhaça e escolhi a arte como caminho de vida. Em dezembro de 2007 resolvo sair da Bahia e ir em busca de um grande sonho. Mudo-me para Olinda (PE), volto para minha origem, meu berço e me reconheço finalmente. Em 2011 retorno para Bahia, agora para o Vale do Capão. E me deparo com um lindo caminho... Aqui apresento um pouco de tudo do que vim buscar e do que acredito.





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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

ARTIGO publicado na revista CONTINENTE em novembro de 2010.

Artigo de
VIVIANE SOUTO MAIOR
Fervo, frevo:
aula-espetáculo

A contribuição do frevo para uma pesquisa nas artes cênicas.

Você conhece o frevo pernambucano? É muito provável que conheça apenas as canções mais famosas como Vassourinhas (Matias da Rocha e Joana Batista Ramos) e Madeira que cupim não rói (Capiba) e que as escute somente no período carnavalesco ou até mesmo só no Carnaval. E a dança do frevo? O famoso (ainda não tão conhecido) passo? Nas ruas, arrisca-se um passo, sugere-se uma tesoura, desfila-se com sombrinhas e veste-se a camisa do carnaval pernambucano, apenas naquela época determinada do ano. Entretanto, não somente no aspecto musical, mas também na sua dança, o frevo vem se tornando referência artística de grande importância e representatividade, sendo pensado como arte que transcende o período carnavalesco.

O frevo é um dos elementos da cultura popular pernambucana que tem ganhado visibilidade, a partir de investigações recentes realizadas por artistas e pesquisadores, tanto no campo de pesquisas acadêmicas, como em resultados cênicos. Entre as novas investigações, que pensam o frevo enquanto arte e que enxergam nele, em especial no passo, uma riqueza de material com possibilidades artísticas variadas a serem conhecidas e trabalhadas, está o projeto Fervo, frevo: aula-espetáculo, contemplado em 2009 pela Bolsa Funarte de Produção Crítica sobre as Interfaces dos Conteúdos Artísticos e Culturas Populares, por meio do Ministério da Cultura. A pesquisa, por mim desenvolvida e que tem como resultado uma aula-espetáculo, busca incorporar elementos da dança frevo no treinamento do ator-dançarino e na criação cênica. Outro trabalho que vem sendo desenvolvido a partir da dança frevo, é fruto das pesquisas e investigações da coreógrafa Valéria Vicente. O frevo também foi matéria prima para suas pesquisas práticas que resultaram nos espetáculos de dança “Fervo” (2007), “Pequena Subversão” (2008) e no livro “Entre a ponta de pé e o calcanhar” (2010). O Professor de Educação Física Chikashi Kambe, da Tokyo Gakugai University, (universidade situada na cidade de Tókio no Japão) desenvolve estudos sobre a dança do frevo e sobre o carnaval pernambucano e atualmente realiza aulas da dança no seu país.

A dança do frevo é extremamente rica e possui uma gama de elementos que precisam ser contemplados e divulgados, principalmente visando à valorização e ao conhecimento do passo, para que não fique exclusivamente vinculado à folia momesca e à extroversão, o que resulta numa visão que desconsidera as suas variadas possibilidades, modalidades e nuances.

O frevo surgiu nas ruas do Recife no fim do século 19 e se estruturou como forma artística no decorrer do século 20. Sua dança começou a ser elaborada de maneira sistematizada somente na década de 1970, pelo Mestre Nascimento do Passo, que desenvolveu um método, com o objetivo de perpetuá-la às novas gerações.

A metodologia criada por Nascimento se tornou um grande facilitador para a pesquisa, no que diz respeito ao entendimento e aprendizado do passo, permitindo que alguns princípios também utilizados no teatro (dentro do treinamento do ator-dançarino) fossem facilmente percebidos, apreendidos e trabalhados. O projeto Fervo, frevo: aula-espetáculo é o resultado de uma pesquisa para as artes cênicas, que tem como base o frevo e em especial o método do Mestre Nascimento. Outra referência do trabalho é o grupo Guerreiros do Passo, formado por discípulos do Mestre Nascimento, que há cinco anos desenvolve um projeto de aulas gratuitas de dança em praças e ruas da Região Metropolitana do Recife, sem nenhum tipo de incentivo e apoio de instituições particulares ou governamentais.

A pesquisa estabelece o diálogo entre o método criado por Nascimento e o pensamento da Antropologia Teatral. O encontro e o diálogo entre essas duas linguagens artísticas acontecem com o foco no trabalho do ator através de alguns princípios da dança identificados e trabalhados para o treinamento e para criação cênica. A Antropologia Teatral se vale de princípios identificados na base dos diferentes gêneros, estilos e papéis das tradições pessoais e coletivas, para o estudo do comportamento cênico pré-expressivo, propondo-se a descobrir os princípios transculturais que constroem sobre o plano operativo a base do comportamento cênico, sendo dever do ator conhecer tais princípios e explorar incessantemente todas as possibilidades práticas.

Com as apresentações da aula-espetáculo, resultante dessa pesquisa, é possível identificar o interesse e admiração do público pelo frevo, ao mesmo tempo em que perceber a sua falta de conhecimento sobre o assunto. No debate final torna-se evidente a curiosidade dos espectadores e a vontade de discutir e conhecer melhor a dança, o método e a pesquisa. A grande descoberta para esse trabalho e que permanece desconhecida pela maioria das pessoas é o trabalho com as modalidades da dança frevo identificadas por Mestre Nascimento do Passo. Além dos 40 passos básicos que integram o método, existe um trabalho com diferentes qualidades corporais, que são maneiras distintas de se dançar o frevo. O trabalho com as modalidades contribui para o enriquecimento do treinamento do ator-dançarino, assim como favorece a criação de personagens e situações cênicas. Alguns exemplos de modalidades identificadas por Nascimento são: a modalidade do ginasta, do bêbado, da criança, do cinqüentão, da mulher pernambucana, do capoeira, do carancolado, da boneca, entre outros.

Ainda falta um reconhecimento ao trabalho artístico e pedagógico, de valor histórico e social, realizado por Nascimento do Passo. A seu respeito, encontramos depoimentos de foliões, carnavalescos, alunos, em livros e jornais, destacando a importância e sabedoria do seu legado e a sua dedicação e paixão pelo frevo. “O trabalho de Nascimento é, acima de tudo, um exemplo de resistência cultural, de luta política para retirar o frevo e o passo dos parâmetros do exclusivamente carnavalesco ou folclórico”, escreve a pesquisadora Maria Goretti Rocha de Oliveira, em seu livro Danças populares como espetáculo público no Recife de 1970 a 1988.

O projeto Fervo, Frevo: aula-espetáculo foi apresentado recentemente no III Festival Latino Americano de Teatro da Bahia, em Salvador (BA), com uma grande aceitação do público, dando continuidade ao seu objetivo de divulgar a pesquisa e o passo. Este é um resultado de grande interesse para os profissionais e estudantes das artes e para o público geral, pois amplia os conhecimentos sobre o frevo pernambucano, valoriza o teatro de pesquisa, ao mesmo tempo em que enaltece a prática dos brincantes populares. Dessa maneira, buscamos contribuir para a divulgação e a valorização da cultura do nordeste, do frevo e do teatro de pesquisa, fomentando a diversidade da produção cultural da região. A pesquisa pode ser acompanhada pelo blog: www.viviver.blogspot.com